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Ipê Amarelo

Era uma vez uma sementinha que, voando com o vento, caiu em um buraquinho em pleno cimento frio de uma praça no centro de uma cidadezinha nos arredores de uma grande capital.

Quando morava nos galhos de sua árvore-mãe, seu sonho era viajar o mundo, conhecer as cidades que só conhecia ouvindo as histórias contadas pelos pássaros, que livres com suas asas, pousavam nos galhos das árvores e compartilhavam suas grandes aventuras.

Eles falavam de árvores de concreto, frias e imóveis, cheias de ninhos organizados de forma simétrica. A noite cada ninho tinha seu próprio vaga-lume a iluminar o interior. Contavam ainda que elas não tinham galhos, mas orifícios que permitiam que os passarinhos pudessem fazer seus ninhos.

E os perigos? Ela ficava curiosa para conhecer como eram os felinos da cidade que, com suas garras, desfaziam os ninhos e outras vezes corriam atrás de seus filhotes.

E assim sonhava em um dia viajar e conhecer todas essas aventuras.

Com o tempo todas as suas irmãs sementinhas foram crescendo e ganhando a liberdade. Algumas caíram ali mesmo na floresta e estavam ansiosas em germinarem e crescerem fortes tal qual sua árvore-mãe.

Sua vez logo chegou! Ela escolheu um lindo dia ensolarado, se acomodou no vento mais forte que ia em direção às aventuras dos seus amigos pássaros, se despediu de suas irmãs e partiu.

E lá se foi nossa sementinha.

Qual foi a surpresa de nossa amiga? O vento mudou a direção e a fez cair no buraquinho em pleno cimento frio de uma praça no centro de uma cidadezinha nos arredores de uma grande capital.

No início era tudo escuridão, os barulhos que ouvia não eram os que estava acostumada na floresta e, curiosa como só, ela se fortaleceu e aos poucos foi rompendo o cimento, crescendo e abrindo espaço por aquele pequeno buraquinho. Assim pode conhecer o lugar onde seu germinar despertou.

Ela foi crescendo, crescendo e tomando forma, ficando cada dia mais forte, porém ela não estava gostando do que via. Primeiro era tudo muito grande, cinzento e barulhento e as pessoas que passavam por ela, nem sequer a notavam. Havia poucas árvores ao redor e os pássaros apenas passavam lá no alto do céu. A solidão tomou conta de nossa agora amiguinha, que suspirava triste e continuava a sonhar com as aventuras das histórias dos pássaros da floresta. 

De certa forma, lembrar das histórias a tornava cada vez mais forte e ela continuava a crescer.

E com o passar do tempo mais perto ela chegava do céu e melhor ela podia conhecer tudo o que estava ao seu redor. Um dia um homem veio até ela e, com suas ferramentas, abriu um bom espaço ao seu redor, deixando que suas raízes pudessem assim respirar com maior alívio. Ele colocou uma plaquinha, mas como ela não sabia ler, não tinha como entender o que estava nela. Depois desse dia, ela percebeu que as pessoas passavam por ela e paravam para olhar a plaquinha e depois sorriam! E logo muitos pássaros começaram a parar em seus galhos e agradecer o descanso.

Quanto mais ela crescia, sua solidão e tristeza foram sendo esquecidos. Ela fez novos amigos que passaram a contar muitas outras aventuras, conheceu as árvores de cimento frio, que apesar de não serem tão grandes como imagina, faziam jus ao que tinham ouvido.

A sementinha, que agora não era mais uma pequena sementinha, logo percebeu a importância de ter caído bem ali, como uma linda árvore em formação pode se orgulhar do que estava proporcionando aos moradores da cidadezinha.

Quando adulta, cheia de amigos e de aventuras para contar, em certa época do ano ela era cheia de folhas verdes que proporcionavam sombra e aconchego a quem por ela passasse.

Depois suas folhas caiam e seus galhos ganhavam força para logo depois surgirem suas lindas flores amarelas e, nessa época, as pessoas admiravam a sua beleza e posavam para fotos e diálogos acalorados de encantamento. 

O tempo continuou passando e, a cada ano, novas sementes ela produzia e lançava ao vento. E como na floresta, muitas caíram ao seu redor. Os homens tiraram o cimento da praça e deixaram livre para que elas germinassem, seus amigos pássaros trouxeram outras sementinhas de espécies diferentes e, logo ao seu redor, uma pequena floresta cresceu, tornando a cidade, antes cinza e fria, em um maravilhoso lugar aconchegante e colorido. Os sons de pássaros fazendo seus ninhos passou a preencher o ar, junto com os aromas da diversidade da vegetação. Agora ela era a árvore-mãe! Sua perseverança e curiosidade transformou a vida de muitas pessoas.

Nossa sementinha nunca mais se sentiu só ou triste. Ela se sente orgulhosa cada vez que alguém para e lê a sua plaquinha, mesmo não sabendo o que está escrito, ela fica feliz, pois eles olham para ela e sorriem felizes!